domingo, 4 de setembro de 2011

O Sábio















Raramente falamos sobre algo importante durante o dia. Geralmente, apenas noticias que talvez o outro não saiba ou duvidas irrelevantes que provavelmente saiba. Sentamos juntos todos os dias pra almoçar, trocamos sorrisos, sinais e sentimentos. Acostumamos com os hábitos alheios e dividimos algumas manias...

Aprendemos as mesmas coisas, mas de modos diferentes. Ajudamos-nos mutuamente, cada um com suas experiências de vida, mas ambos com um mesmo ideal, sugerido por uma mesma pessoa. Um anjo. Um anjo torto. Que disse: "Vai, vai ser gauche na vida".

Ao cair da alvorada, os assuntos reais brotam. Tiram o sono. Ás vezes o pedido de suspender a confabulação surge para poder pensar nos fatos compartilhados – “Muito para mastigar” – e assim fechamos os olhos e as bocas, mas não dormimos. Não ainda. Não sem dar uma resposta para si mesmo. Não sem um sedativo mental.

E adormecemos, sedados. Sonho com a criação do mundo. Vejo os meus pés e os pés do outro, balançando no abismo que separa o mundo material do paraíso. Estávamos sentados na borda das nuvens, observando o milagre acontecer. Olhei para o seu rosto e vi seus olhos: castanhos, brilhosos e que sonham em um dia se apaixonar. Estávamos felizes como nunca.

Ao nascer do infausto sol, sentamos frente a frente, silentes, pensando. A vida clamava por nos lá fora, mas as perguntas gritavam e ainda restava uma gota do sedativo. Infelizmente apenas uma gota. O leve processo de alienação ocupa a liberdade matinal, mas á muito tempo já nos tornamos indiferentes a esse. Porém temos que seguir o fluxo ou não nos aceitarão, assim, fingimos ser babalizados. Somos bons atores.

Desligo a minha mente do real, deixando esse para o meu maior companheiro: o subconsciente. Assim, sonhei. Sonhei que me deitei, mas não queria fechar os olhos. Tinha medo de não acordar mais, de nunca mais sentir aquela apreensão de não vê-lo do meu lado, seguida pela satisfação de reencontrá-lo. Havia sonhado com o ultimo dia na terra.

Quando percebo, o sedativo já escorre pela minha boca e assim o perco, fadado a continuar no mundo desqualificado. Porém já é tarde e logo mais chegara o momento de confabular. E peço ao Senhor-Do-Tempo que o logo chegue, para ir ao meu refúgio, meu restaurante da mente.

Na manhã seguinte ocorrerá algo que o outro já havia pressentido, pelo toque. Sempre tenho medo dessa habilidade dele, mas nem sempre ela é negativa, nem sempre... E no mesmo dia eu falarei aquilo que em um sonho o meu coração me disse:

- Lembranças ruins são como tijolos no bolso, que após algum tempo você pode até se esquecer. Mas quando se depara com eles: “Ah, ai esta você...”

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