segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Os filhos não poderiam morrer antes dos pais e vice-versa



Haviam dois jovens simples, de famílias simples. Amigos. Estudavam no mesmo lugar e tinham idades próximas. Dividiam experiências e o tempo. Sempre sorrindo. Compartilhavam sentimentos, doenças, machucados, amigos e objetivos. Tinham a manhã para eles. E o mesmo plano de vida. Consideravam-se filho e pai. Não necessariamente havia um papel fixo para cada, trocando sempre esses dependendo da situação. Mas sempre foram pai e filho. Sempre. Encontravam-se no mundo astral e físico, sempre lado a lado. A mesma música sempre os guiava, e o medo nunca era algo insuperável. Mas uma coisa o tempo não deixou que compartilhassem: o mesmo fim. Engraçado como tudo se vai quando menos se espera. Vem fácil, vai difícil. Difícil esquecer a dor que fica quando a data chega. Só não é mais difícil imaginar seu pai, seu filho, te encarando com um olhar triste por você estar triste. Dividindo aquele sentimento de tristeza. Inigualável. Como continuar caminhando quando a sua ilha afunda e o seu totem já não te susta mais? Fácil. Viva para descobrir o que de errado aconteceu e, se algum dia tiver outro filho, outro pai, não deixará que a mesma coisa aconteça. Nunca. Pois quando se separa pelo desgostoso, que pela primeira vez não foi compartilhado, você se perde em um labirinto mental, criado pela suas mais felizes recordações. E quando você acha a saída, não quer seguir. Mas se obriga. A porta não esta fechada, sempre você pode regredir. Mas irá? Conseguirá abrir os olhos em outra manha quando sabe que, aquele que olha por você, não mais sente como sentiu um dia? Não. Você segue, pois a dor amarga que sentiu, não quer ser sentida novamente. Não pode ser. Não seria capaz de senti-la novamente. E você pensa... Pensa... Porque não ocorreu o mesmo com você? Porque o sentimento que o alcançou não foi sentido? Não pôde ser, pois não houve tempo. Tempo. Aquele que era tão facilmente compartilhado ao longo da manha, sentado na porta da casa, com carros passando, o sol no alto e os sorrisos. E novamente você cai nas memórias boas. E se perde, pois a dor é apenas uma pontada, que você não esquece que sentiu. Nada lhe falta, fisicamente, mas você a sente. Aquela flor no bolso, que nunca morre. Deveria ser proibido suicídio de jovens, mas não há super-heróis nesse mundo. Não nesse. Mas há naquele que a imaginação te leva tão facilmente, pois lá a pontada some, te tragando fortemente para o labirinto. E você deixa ser levado. Quer ser levado. E então para. Sua mente dividida entre dois mundos, forçado a escolher. Encarando novamente aqueles olhos aveludados, compartilhando o remorso. E então sai. Não é capaz de fechar o labirinto. Nunca será. Mas sempre será capaz de seguir adiante, com o seu labirinto em seu calcanhar, esperando alguém que nunca vem. Alguém que não tomará o lugar do outro e não preencherá o vazio deixado, mas sim criará um novo totem. Fazendo-te esquecer daquela velha ilha e criando uma nova porta. Uma porta para a sua torre. Alguém que você poderá se agarrar, que nunca te deixará. Enquanto o tempo permitir. Pois você vive e sente a dor. Cai. Mas levanta para poder viver novamente, mesmo sabendo que a dor chegará. Mas um dia chegará. E quando chegar, não deixará que o mesmo erro ocorra. Nunca mais.

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